body #444

info
×

Ao se apropriar de uma antiga e abandonada coleção de fotografias de mulheres nuas, Eduardo Muylaert gerou, por meio de diversas operações que deram um novo e original contexto às imagens, o ensaio Mulheres dos Outros, que foi exposto na galeria Fauna, em São Paulo, em fevereiro de 2012.

Colecionador e pesquisador ávido por imagens e equipamentos antigos de fotografia, Eduardo Muylaert encontrou em uma feira de antiguidades em São Paulo uma pequena caixa de cromos com uma única descrição: nus artísticos. No interior da caixa quase uma centena de cromos de cinco ou seis décadas atrás exibiam o erotismo comportado da época. Mulheres nuas, ícones de beleza do passado, que agora tentam sobreviver sob colônias de fungos, e riscos em virtude do péssimo estado de conservação das imagens.

Novos cortes, restauração e reinvenção da carga cromática, readequação dos contrastes e ampliação de detalhes se alternaram nesta espécie de arqueologia que pautou o processo criativo de Muylaert.

Ao final do processo fica sublinhado nas imagens o embate entre o registro fotográfico que resiste em manter a sedução do referente e o inevitável processo de apagamento que o tempo impõe à película. Cabe ao artista que refotografa e recicla velhos arquivos dar-lhes um novo significado, no qual ícones do passado ganham um novo e inesperado sentido por meio de uma visão contemporânea transformadora. Como numa alquimia, o erotismo retrô das imagens antigas encontra ressonância, após as intervenções de Muylaert, na beleza clássica das esculturas gregas.

body #434

info
×

body #344

info
×

MULHERES DOS OUTROS

Representar é sempre da ordem da transgressão. É um protesto permanente contra o desvanecimento do ser. No entanto, a crença de que a fotografia ganhou a batalha contra o tempo, ironizando o fluxo contínuo dos dias enquanto preserva intacta a memória do passado, pode ser um engodo.

As imagens de “Mulheres dos Outros” são emblemáticas para pensar a questão da durabilidade da memória nos documentos. Nelas coexistem o instante do ato fotográfico e o percurso do suporte até os dias de hoje. É como se fossem fotografias capturadas numa velocidade de obturador equivalente a 60 anos!

Vemos as mulheres resistindo bravamente em seus ímpetos sensuais numa batalha cada vez mais perdida para a dissolução acelerada da película que abriga colônias de fungos e riscos, metáforas do esquecimento e abandono.

Ao adquirir numa feira de antiguidades uma caixa de slides com a descrição “nus artísticos”, Muylaert manipulou-os no sentido de recriar a carga cromática perdida e salientar a forma sensual por meio de cortes que curiosamente restauraram pontos de contato com a beleza clássica das esculturas greco-romanas.

Entre a mulher que, num último suspiro, tenta nos excitar exibindo seus atributos físicos, e o ataque assassino dos fungos, o artista não advoga para nenhum dos lados. Sua opção é a de deixar ainda mais proeminente o embate, o campo de batalha entre tempo e memória, desejo e falência, a vulnerabilidade da carne e a perenidade das imagens. A poética se dá no atrito dos contrários.

Graças à ação transgressiva de Muylaert, o signo esvanecido ganha nova potência, ecoa não apenas um instante longínquo, mas a soma dos dias. Como diz o poeta Octávio Paz: “a luta se resolve no poema, com o triunfo da imagem que abraça os contrários sem aniquilá-los”.

Eder Chiodetto

body #363

info
×

body #356

info
×

body #382

info
×

body #366

info
×

body #385

info
×

body #445

info
×

body #384

info
×

body #429

info
×

body #392

info
×

body #357

info
×

body #416

info
×

body #359

info
×

body #415

info
×

body #415

info
×

body #398

info
×

body #397

info
×

body #422

info
×
Using Format